sábado, agosto 28, 2010

Verônica era imponente. Calada. Misteriosa e incrivelmente linda. Fria. O tipo de mulher que você imagina que nunca vai se apaixonar. Passaram-se dias, meses e eu nunca soube nada a seu respeito. A menos de Mário. Soube do Mário pela tatuagem em seu braço, em letras miúdas, quase inelegível. Não me arrisquei a perguntar quem era, eu a amava de todo coração e não queria vê-la ir embora como sempre fez. Não tínhamos nada. Era amor fraternal, não de carne. Verônica era imponente e deixava claro sua individualidade, mas eu sentia profunda necessidade de protege-la. Eu nunca soube porque a amava tanto. Talvez por pena. Eu nunca tinha visto olhos tão tristes e não havia exatamente tristeza em seu olhar, era mais uma espera cansada. Ela esperava muito e fortemente por alguém que ela sabia que não viria mais. Fui seu amigo por exatos dez anos. Verônica morreu aos 27. E foi quando eu vim a saber de Mário. Pra minha surpresa, Verônica tinha vivido um grande amor e uma profunda tristeza. Depois de sua morte vim a saber que no dia em que nos conhecemos, Verônica tinha acabo de perder seu único amor. Mário havia partido, deixando pra trás uma pessoa vazia e levrando consigo a Verônica que eu nunca conheci, mas que existiu um dia, só pra ele.

Só vim a conhecer minha Verônica depois de sua morte, quando antes de partir me entregou uma carta. Onde dizia as seguintes palavras: "Não se preocupe, meu amigo. Eu fui muito feliz um dia, vivi aquele amor que você tanto me falava pra viver, não sei se algum dia ele vai voltar, caso volte, peço-lhe que lhe diga que eu o esperei até o último segundo."
Deixar pra trás significa seguir em frente, reto, sem lembranças, sem olhar pra conferir se o que você deixou continua ali. Mas não tem jeito, não tem como não olhar pra trás quando é la que está o único ser humano que consegue te fazer se sentir incrivelmente viva, mesmo quando te faz mau.

sábado, agosto 07, 2010

Ele passa do meu lado e nada. Nem um esbarãozinho, nada. Ah, mas claro que ele olho de canto, não olho? Não, nada! Nada? Nadinha! Dois anos tentando me ganhar e agora que pinta uma chance daquelas ele nada. Volto pra casa arrazada. Coloco o pijama mais surrado pra fazer compania pra minha auto-estima que a essa altura ja está mais surrada que meu pijama. Tres potes de sorvete pra não pensar mais e nem meu gato que é gordo e peludo aguenta mais. Até ele ja sabe que o fulano, nada, nadinha! A noite que prometia só serviu pra me mostrar que ja que eu sou louca e birrententa, ele também pode ser. Minha melhor amiga me liga animada e pergunta: e ele, nada? Nada! E você, nada também? Eu, como assim? Eu fiz o de sempre. Passei do lado dele, mas não olhei. Nem um esbarãozinho e mesmo querendo não olhei de canto. Ah, fez igual ele? Não, eu fiz primeiro. Ah, eu sabia! É sempre você, o nada. Eu? É! Desligo o telefone pra não perder minha melhor amiga, entro no msn e ele diz "preciso de você agora, da pra parar com esse seu nada eterno?" Fico estática na frente de computador. Eu, pela primeira vez na vida percebo que se a pessoa para de dar a cara a tapa, não é por falta de querer e sim foi pouca vontade de levar mais tapas. Tiro meu pijama surrado e me prometo que, agora, eu, eu TUDO! E ele? Ah, ele sempre foi tudo, eu que era um grande e tosco nada!